Importância do cultivo no controle de qualidade de fitoterápicos

Prof. Dr. Cícero Flávio Soares Aragão
Universidade de Cuiabá (MT)

O produto fitoterápico é todo medicamento tecnicamente elaborado, empregando-se exclusivamente matérias-primas ativas vegetais com finalidade profilática, curativa ou para fins de diagnóstico, com benefício para o usuário (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1995).

Fitoterápicos são produzidos de plantas frescas ou secas, ou parte das plantas por destilação, percolação, maceração e outras operações. Caracteristicamente, os constituintes ativos são obtidos juntos com outras substâncias presentes na planta. Estas substâncias atuam sinergicamente melhorando a atividade biológica. Para manter a qualidade em um fitoterápico, antes é necessário assegurar a co-existência destas substâncias, ou grupos químicos, presente na espécie, visto que os princípios ativos de muitas plantas medicinais são desconhecidos, bem como as demais substâncias. Uma qualidade consistente do fitoterápico pode ser alcançada se todas as etapas de processamento da matéria-prima ativa vegetal e manufatura do produto final conservar o constituinte ativo e as substâncias sinérgicas (SCHIMIDT, 1984).

Os programas de cultivo devem ser iniciados nos primeiros estágios de desenvolvimento de um fitoterápico, para que se possa assegurar o fornecimento contínuo da matéria-prima vegetal ativa necessária para sua produção e para evitar variação biológica entre os lotes de um mesmo fitoterápico (FARNSWORTH, 1987).

O trabalho com plantas medicinais inicia-se na identificação correta da espécie, coleta adequada, pré-tratamento e armazenamento corretos e termina com a preparação e utilização terapêutica, que também devem ser adequados para que os resultados sejam satisfatórios. Qualquer erro em algum elo desta cadeia vai comprometer o resultado final do processo. Por exemplo, uma espécie identificada erradamente pode resultar em medicamento fitoterápico inócuo ou até numa intoxicação por planta venenosa; o cultivo em solo ou clima inadequado, o uso de pesticidas, etc. geram uma planta com pouco princípio ativo, o mesmo ocorrendo se a colheita não for na época e de forma adequadas; erros no armazenamento podem comprometer os princípios ativos ou causar contaminação por fungos e produzir toxicidade nos pacientes. Por fim, a utilização errônea das plantas ou o emprego de técnicas inadequadas de preparação prejudicam os resultados finais ou causam efeitos colaterais (BOTSARIS, 1995).

O cultivo de plantas medicinais é muito importante para o controle de qualidade de fitoterápicos, pois o risco da adulteração ou troca por outras matérias-primas vegetais é quase totalmente eliminado. A utilização de técnicas de cultivo e genéticas permite o cultivo de espécies que são mais produtivas e resistentes a doenças, etc., além da proximidade do local de processamento. Permite garantir a qualidade de toda área a ser cultivada. Uma desvantagem, o uso de pesticida, pode não ser evitada. Por sua vez, o tipo e a quantidade do pesticida usado pode ser controlado mantendo o resíduo dentro dos limites toleráveis.

Embora o cultivo de plantas medicinais não seja uma área da tecnologia farmacêutica, ele pode ter grande influência no desenvolvimento de um fitoterápico.

Existem duas alternativas para obtenção da matéria-prima ativa vegetal: a coleta das fontes nativas e a cultivada. Por várias razões, o cultivo de plantas medicinais será, no futuro, a principal fonte de matéria-prima vegetal. C. Franz (FRANZ, 1982) cita algumas destas razões:

  1. o fato que muitas das substâncias de origem natural não podem ser sintetizadas, ou podem ser sintetizadas somente com grande esforço, necessitando do cultivo da matéria-prima vegetal.
  2. a incerteza no fornecimento da matéria-prima ativa vegetal, quando esta é obtida de fontes nativas, mostra a necessidade de seu cultivo. A quantidade disponível está distribuída em pequenas áreas dispersas, necessitando de "mateiros" que conheçam bem as plantas para poder coletá-las. Todos estes fatores levam a ocorrência de erros na identificação e adulteração da matéria-prima ativa vegetal.
  3. o aumento da exigência em relação a um controle maior na pureza, nas matérias-primas ativas vegetais e na qualidade do fitoterápico. A composição heterogênea das matérias-primas ativas vegetais nativas é obtida em pequena quantidade e não permite reprodutibilidade em sua qualidade.
Frans (FRANZ, 1982) tirou a conclusão de que não apenas o cultivo de plantas medicinais deve ser intensificado e renovado, mas também outros fatores que afetam a qualidade do produto. As plantas medicinais podem ser cultivadas visando o aspecto fitoquímico, já que o sucesso do cultivo depende menos da sua quantidade e mais de sua qualidade. O conteúdo das substâncias ativas de plantas medicinais cultivadas pode ser afetado por vários fatores:
  • variação genética e transmissão hereditária das substâncias secundárias (geralmente o princípio ativo)
  • variabilidade morfo e ontogenética, por exenplo, diferenças no conteúdo de substâncias ativas em várias partes da planta e durante seu desenvolvimento.
  • Influências ambientais (localização, fertilização, clima, altitude, etc.)

Métodos de cultivos são relatados na literatura (EBERT, 1981; SCHWARZENBACH, 1982), permitem o produtor agrícola a produzir, de maneira relativamente rápida, matérias-primas ativas vegetais com alta qualidade e em grande quantidade.

Referências bibliográficas

  1. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 6, de janeiro de 1995.
  2. P. C. Schimidt. Phytopharmaceutical Technology. Boca Raton, 1984.
  3. N. R. Farnsworth. Testando Plantas para Novos Remédios. Biodiversidade, 1987.
  4. S. Botsaris. Fitoterapia Chinesa e Plantas Brasileiras. Ícone, 1995.
  5. Franz. Dtsch. Apoth. Zig 122, 1413 (1982).
  6. K. Ebert, Arnei- und Gewürzpftanzen. Ein Leitfaden für Anbau und Sammlug. Wiss. Verlagsgesellschaft mbH., Stuttgartt (1981)
  7. M. Schwarzenbach, Biol. I. u. Zeit. 11,2717 (1982)


© 2003-2005 Sérgio Roberto Sigrist - Todos os direitos reservados!